domingo, 29 de março de 2009

A VIDA ESCANDALOSA DOS BEATLES - I

Peter Brown foi executivo do empresário dos Beatles, Brian Epstein, e Steven Gaines é especialista na redação de biografias, além de colunista da música pop. The Love You Make é o último verso da última música do último álbum dos Beatles. Esta primeira parte da condensação do livro narra as aventuras sexuais e sentimentais dos quatro Beatles, todas elas resultando na dissolução de um casamento para a formação de outro. Ficamos sabendo como John trocou Cyntia por Yoko Ono, o modo como Linda Eastman, herdeira da Kodak, agarrou o Beatle mais cobiçado pelas mulheres, Paul. E também como o rompimento do casamento de George e Pattie levou de roldão também o de Ringo e Maureen.


Ela ficou sem fôlego descobrindo-se daquele jeito. Bem que ela vinha esperando, quase desejando que aquilo acontecesse, há já alguns anos; mas ainda assim, quando Cynthia Lennon voltou para casa, após férias de duas semanas na Grécia, em maio de 1968, e encontrou o marido com aquela artista japonesa baixinha, chamada Yoko Ono, tomando chá em roupão de banho, ela ficou muda. Tentou dizer alguma coisa inteligente e segura, mas quando abriu a boca para falar descobriu que não conseguia nem respirar.
Cynthia passara umas férias curtas com Jenny Boyd, irmã de Pettie, a mulher de Jorge Harrison, e também com um dos melhores amigos de John, o mágico eletrônico chamado Magic Alex. Quando os três chegaram de táxi do aeroporto, os portões da frente estavam destrancados e as luzes da varanda acesas. Cynthia não precisou usar seu cartão magnético de código para abrir a porta da frente.
A casa estava estranhamente silenciosa. Não havia sinal de Julian, o filho de 5 anos; nem de Mrs. Jarlett, a fiel governanta; nem do próprio John. Cynthia caminhou até o pé da larga escadaria de mogno que levava aos andares do estúdio e do quarto de dormir, e chamou: “Alô! Você está aí? Tem alguém em casa?” Só teve como resposta o silêncio.
“John, você está aí?” chamou Cynthia, dirigindo-se para o solário. Achou que ouvira alguma coisa na cozinha, feito um riso abafado. Apreensiva, ela abriu a grande porta de painel de carvalho, para ver o que se passava.
John, de roupão, ficou parado olhando para ela, segurando na mão esquerda uma xícara fumegante de chá, um cigarro aceso na mão direita. Yoko Ono estava sentada na mesa da cozinha, de costas para a porta. Ela nem se deu ao trabalho de se virar. A cozinha branca, moderna, de vários níveis, estava cheia de pratos sujos e refeições largadas pela metade, dando a impressão de que a governanta há dias não podia entrar ali. As cortinas estavam abaixadas, e as luzes eram fracas.
“Oi”, disse John, lacônico, quebrando o silêncio. Tomou calmamente um gole de chá, enquanto Cynthia tentava perscrutar-lhe os olhos. Ele parecia meio doidão, como se tivesse ficado viajando a noite inteira, sem ter dormido um minuto. Sua silhueta comprida e magra estava coberta por uma camada de gordura mole, resultado de edemas causados pela droga e de muita dissipação. O cabelo estava pegajoso e emaranhado e ele, de uma maneira geral, parecia que não tomava banho há algum tempo. Por trás dos óculos de aro metálico, as íris eram dois pedacinhos de carvão, e as pálpebras, duas janelas quase caindo. Houve um momento longo de pausa, em que ninguém se mexeu.
Finalmente, Yoko virou-se para olhar para Cynthia. Seria mais apropriado dizer: para confrontá-la. Não havia o menor sinal de um sorriso sem graça, o menos sinal de lampejo de desculpas ou explicação. Inescrutável era, de fato, a perfeita descrição dela naquele momento. Cynthia olhou para Yoko. Puxa, não parecia nem um pouco o tipo que pudesse ganhar o afeto de John. Era uma mulher de olhar severo, que não sorria. Tinha um rosto pálido e oval. Com 36 anos, era oito anos mais velha que John e mais do que só um pouco desajeitada. Não poderia chamá-la de um símbolo sexual. Para cúmulo de tudo, ela no momento era casada e tinha uma filha de seis anos. Olhando para ela, ali, sentada, Cynthia de repente deu-se conta que Yoko Ono não estava apenas usando um roupão de banho, mas o sei roupão de banho. “Oi”, disse Yoko, fria, imperturbável.
Seguiu-se um doloroso silêncio, enquanto um sorriso sardônico cruzava lentamente o rosto de John. Cynthia decidiu agir do único jeito que sabia, do único jeito que vinha agindo durante todos aqueles anos de inesperada loucura com os Beatles: como se nada fora do comum estivesse acontecendo. Num momento quase surreal, ela escutou a própria voz recitando o pequeno discurso que preparara enquanto estava no avião com os companheiros de viagem – que agora estavam parados, mudos, atrás dela, no pórtico da cozinha. “Nós estávamos pensando em sair para jantar fora esta noite”, disse Cynthia, suavemente. “Tomamos o café da manhã na Grécia e almoçamos em Roma, e achamos que seria ótimo se todos jantassem em Londres. “Você quer vir?”
John olhou duro para ela. Por um momento ela se sentiu aterrorizada com ele, com aquela língua afiada feito um sabre que ele tinha, e que se abatia sobre ela com tanta facilidade. Rezou para que ele não a humilhasse mais na frente de Yoko. Ele apenas murmurou: “Não, obrigado.”
Com isso ela se virou e saiu correndo da cozinha. Foi pela casa de aposento em aposento, juntando coisas para botar nas malas, coisas inúteis, lembranças de um casamento que na verdade nunca dera certo. Enquanto Jenny e Magie Alex esperavam por ela no Hall de entrada, ela subiu correndo a escadaria principal para o segundo andar, e passou do vestíbulo para o quarto de dormir, um aposento do tamanho quase da metade de uma quadra de tênis, com armários do chão ao teto, de parede a parede os quartos de vestir dele e dela, e uma cama com quase três metros de largura, na qual ela esperou incontáveis noites que ele voltasse para casa, terminando por adormecer sozinha. No corredor, ela viu os chinelos maltrapilhos de Yoko na porta do quarto de hóspedes. Bem, disse Cynthia para si mesma, pelo menos eles não usaram a cama dela.
No fundo do seu coração, embora ela mal pudesse admiti-lo. Cynthia sabia que o casamento estava condenado desde o começo. Desde o dia em que se conheceram, John lutara contra monstros e demônios que eram só dele, e ela pouco podia fazer para exorcizá-los.
Ela ficou de prontidão, enquanto – no decorrer dos últimos anos – ele conseguia se manter flutuando num turbulento mar de drogas. Aos 28 anos ele era virtualmente um viciado; com raríssimas e breves exceções, ele esteve ligado e/ou bêbado quase todos os dias de sua vida, desde que ela o conheceu. Numa prateleira do solário havia um pilão e um almofariz brancos, de farmácia, onde ele misturava todas as combinações possíveis de bolinhas, barbitúricos ou drogas psicodélicas.
Sempre que se sentia cair das alturas a que o barato o levava, ele lambia o dedo, mergulhava-o nos ingredientes do almofariz e chupava o que vinha. Em algumas de suas viagens de ácido, ele ficava ligado durante semanas, até que todas as cores se apagassem de sua visão e ele visse as coisas em preto e branco.
“O que posso pessoalmente dizer, escreveu Cynthia, é que o processo de dissolução começou no momento em que a maconha e o LSD fizeram sua derrubadora entrada em nossas vidas”. Mas, no final, não foi nem a maconha nem o ácido que tiraram John dela. Foi outra mulher.
Mesmo em suas lembranças mais antigas, havia sempre algumas mulheres atrás de John, ou da carreira dele, ou da sua fama. As mulheres formavam uma galeria que ia desde as típicas tietes até escritoras e artistas de cinema. Poucas semanas antes, John confessa dezenas de infidelidades durante os oito anos do casamento deles, e ela jamais suspeitara de nenhuma delas. Ele alegara que dessa lista fizera parte a cantora Joan Baez (boxe). No entanto parecia que nenhuma delas fora capaz de atrais a atenção dele. Até Yoko chegar. Yoko Ono era diferente, pelo menos era o que parecia. Ela tinha algo que faltava às outras: uma perseverança que beirava a obsessão. A essa altura todo mundo na casa já estava um pouco de saco cheio dela. Depois de ter conhecido John numa exposição de arte em 1966, ela se mostrou inabalável. Cynthia sempre achou que o primeiro erro de John foi dar apoio à arte que ela produzia, e dinheiro também; isso só fez com que ela ficasse sempre atrás dele, em busca de mais.
No princípio ela apareceu nos escritórios da Apple (a empresa produtora dos Beatles) e pediu para falar com ele. Quando lhe disseram que John raramente ia ao escritório, ela foi para cima de Neil Aspinall, amigo fiel e empresário de viagens dos Beatles. E, quando Neil lhe deu um passa-fora, ela se despendurou no pescoço de Ringo Starr, mas Ringo não conseguia entender uma só palavra do discurso críptico daquela artista/poeta, e saiu correndo depressa.
Em seguida veio o assalto ao lar dos Lennon. Começou com uma saraivada diária de telefonemas, e, depois que o número de John já havia sido trocado umas três ou quatro vezes, Yoko passou a enviar dúzias de cartas. Estas a princípio insistiam, depois exigiam, que John apoiasse os projetos artísticos dela. Cynthia interceptou muitas dessas cartas, e começou a guardá-las quando elas se tornaram e desesperadas, para o caso de Yoko chegar a cumprir as ameaças de se suicidar. Segundo Cynthia, Yoko escreveu: “Não posso mais agüentar a barra, você é minha última esperança. Se não me der apoio, então está decidido. Me mato.”
Muitíssimo viva, Yoko começo a ir pessoalmente à casa deles, esperando no portão as entradas e saídas de John. Ela ficava lá desde manhã cedo até o fim da noite, não importa o tempo que fizesse, usando sempre o mesmo suéter preto mulambento e sapatos na última lona.
Por fim, a perseguição de Yoko a John se tornou tão ostensiva que se transformou numa espécie de piada para o casal Lennon. A “grande atrocidade” de Yoko aconteceu uma noite, quando ela apareceu numa sessão de meditação transcendental a que John e Cynthia tinham comparecido, em Londres. Quando a sessão acabou, ela os seguiu até a rua e pulou para o assento traseiro da limusine Rolls-Royce de John, que era pintada à mão em cores e desenhos psicodélicos, e sentou-se bem no meio do casal. Cynthia e John trocaram sorrisos sem graça por cima da cabeça dela, até que o motorista a largou em casa. Quando Yoko saltou do carro, Cynthia estava bastante deprimida com a aparente habilidade daquela mulher em divertir John com seus esquemas malucos. “Talvez seja Yoko que lhe sirva?”, perguntou ela ao marido.
John soltou uma daquelas suas risadinhas curtas e marotas. “Ela? Ela é muito pirada. Não é ela que me serve. Ela é divertida, isso é tudo. Não tenho atração por ela.”
No entanto lá estava ela, seis meses depois, tomando chá na cozinha de Cynthia, parecendo até que era a verdadeira dona da casa.
Alguns dias mais tarde, quando Cynthia voltou a sua antiga casa para pegar mais algumas roupas, houve uma reconciliação das partes. Yoko tinha ido embora – John disse que se enchera dela – e Cynthia foi convidada a voltar se quisesse. Fazia poucos dias que ela voltara quando John disse que teria que ir a Nova Iorque a negócios. Cynthia pediu para acompanhá-lo nessa viagem, mas John disse que estaria muito ocupado. Mais uma vez, John embarcou numa viagem, dessa vez com a mãe dela e com Julian, para Pesaro, na Itália. Relutante, Cynthia deu em John um beijo de despedida – pela última vez.
No dia 9 de março de 1963, aos 21 anos, Paul MacCartney conheceu Jane Asher. Ela tinha 17. Era pura e bela, com seus cabelos de Vênus. Uma pepita de olhos verdes. E, já então, uma atriz de verdade. É exato afirmar que Paul se apaixonou não só pela garota, mas também pela sua imagem. Meninas inocentes e bem-nascidas com Jane Asher eram inacessíveis, até então, para rapazes de Liverpool do tipo de Paul MacCartney. Antes de mais nada Jane era uma genuína virgem. Nascida em 5 de abril de 1946, morava com a família numa enorme town house de cinco andares, em Londres. Seu irmão mais moço, Peter, formara-se em Cambridge. Era o músico e letrista de talento que, pouco mais tarde, formaria a dupla de cantores Peter & Gorden e com a canção World Without Love de MacCartney atingiria o topo das paradas de sucessos, na pegada dos Beatles. Uma noite, Paul perdeu o avião, quando voltava para Liverpool. Mrs. Asher gentilmente lhe ofereceu o quarto de hóspedes. Era tolice, afinal estar sempre gastando dinheiro nos hotéis londrinos. Paul mudou-se de malas, bagagens e guitarra. Ficou dois anos – com direito a todas as bênçãos oferecidas naquele lar. Quatro anos mais tarde, com 25, Paul transformara-se no multimilionário seguro de si, ligeiramente pedante, alinhado – em suma, no ídolo de sua geração. Fora chamado várias vezes de gênio e – muito justamente – acreditou nisso com a mais profunda das convicções. Tinha aparentemente tudo, em casa. Uma namorada linda e famosa. Uma belíssima cadela pastora, Martha. Uma casa estupenda, que aos poucos ela ia se enchendo de desenhos originais de Aubrey Beardsley. (Os álbuns de platina foram mandados para a casa do pai). Paul tinha tudo menos uma coisa que todo inglês do norte quer muito: esposa e filhos. Apesar de todo o glamour e a perfeição de sua vida conjugal, Jane Asher jamais aceitaria esse papel. Paul continuava loucamente apaixonado. Para ele, ela representava Here, There and Everywhere. Era muito mais do que a musa inspiradora das canções. Só Jane parecia possuir algum controle sobre Paul. Só ela sabia esvaziar aquele ego impossível, sem lhe destruir o orgulho. Só ela sabia devolver a Paul a grande qualidade que o sucesso destruíra: a humildade. Jane amava Paul, mas sua vida não poderia resumir-se a ele. Não podia viver na sombra de um Beatle. Embora tivesse anunciado oficialmente o noivado, e até realizado uma festa em benefício dos parentes de Paul, em Liverpool, ele jamais conseguiu que ela fixasse data para o casório. Enquanto isso, Jane dava duro em sua carreira teatral. Seu nome crescia de mês para mês. Já era a ingênua no elenco principal do Old Vic. Em 1968, ao fim de cinco anos, o romance de Paul MacCartney e Jane Asher estava acabando. No dia 12 de maio, Paul e John foram a Nova Iorque encontrar-se comigo (Peter Brown) e outros executivos da Apple, a companhia produtora dos Beatles. A viagem – uma campanha publicitária de cinco dias – compreendeu, entre outras coisas, uma aparição no programa de televisão Tonight Show, com Johnny Carson e um público telespectador calculado em 25 milhões.Após o programa, Paul saiu para encontrar-se com Linda Eastman. Eu conhecera Linda um ano antes, em Nova Iorque, onde ela iniciava uma carreira de fotógrafa do Rock – e onde era muito mais conhecida como uma ardosa tiete. Eu a apresentara a Paul. Durante uma coletiva à imprensa, naquele dia, Linda aparecera e, sem a menor cerimônia, deu a Paul um bilhetinho com seu número de telefone.

Paul tem um ego terrível, que só Jane Asher sabia manobrar. Mas ela logo se cansou. Com Linda Eastman, ele se permitiu várias extravagâncias e alcançou, com o sobrenome dela, o status com que sempre sonhou.

Ele lhe telefonou, fez planos para vê-la de noite. Mas tinha medo de serem fotografados juntos, se Linda fosse à sua suíte de hotel (e Jane Asher acabar vendo as fotos). Por isso, combinou encontrar-se com Linda no apartamento de um amigo, onde os dois acabaram ficando vários dias juntos. Uma noite, quando Paul lhe disse o quanto gostava de crianças, linda mostrou-lhe sua filha Heather, de seis anos. Paul, radiante, ficou como baby-sitter da menina, quando a mãe foi fotografar um concerto de rock no teatro Fillmore. No fim da semana, Paul voltou para Londres e Linda lhe mandou uma ampliação enorme do rosto dele, com os lábios franzinos. Em cima, superposta, uma foto de Heather beijando Paul. Poucas semanas mais tarde, o Beatle estava de volta aos EUA acompanhado de Ron Kass, gerente da Apple Records. A viagem foi feita expressamente para que Paul falasse num simpósio de fabricantes de discos organizado pela Capitol, em Los Angeles, Paul encontrou tempo para se divertir num bangalô do hotel Beverly Hills. Encenou, naquele fim de semana, o que Ron Kass batizou de Show da Troupe Preta – e – Branca de Paul MacCartney. Num dos quartos Paul instalou uma linda estrelinha. No outro, uma das call girls negras mais famosas de Los Angeles. Kass, que dividia com Paul o bangalô de três quartos, presenciou um espetáculo de malabarismo. Viu Paul passar o fim de semana viajando de um quarto para o outro e só parando para assinar as contas do room-service. Na manhã de domingo, o telefone tocou, interrompendo as funções. Era Linda Eastman. Ela voara até a Califórnia, por iniciativa própria, e naquele momento estava ali no saguão do hotel, falando com Paul através do orelhão. Paul nem vacilou. Disse-lhe que viesse direto para o bangalô. Minutos mais tarde, ela apareceu. Paul lhe ofereceu o sofá, à entrada. Em seguida, bateu às portas de cada quarto ocupado e disse-lhe que se vestissem e se mandassem. Ficou conversando descontraidamente com Linda, no sofá, enquanto o troupe Preta – e – Branca fez as malas e saiu chorando. Linda e Paul não poderiam ter sido mais informais, diante da situação.Também reagiram como verdadeiros Blasés quando Paggy Lipton, atriz americana que na época fazia a popularíssima telessérie Mod Squad, apareceu à porta do bangalô para declarar amor a Paul. O Beatle explicou que estava ocupado e bateu-lhe com a porta na cara. Quando Paul chegou a Londres, de volta, Linda promoveu uma verdadeira campanha transatlântica de telefonemas e cartas – mas pouca coisa uma garota podia fazer para prender a atenção de Paul e quase cinco mil quilômetros de distância. Além disso, Paul suspirava por Jane. Esperava-a de volta de uma turnê. E se mantinha na sua, enquanto isso. Um dia, no verão de 1968, uma americana de Nova Jersey, chamada Francie Schwartz, apareceu no edifício da Apple. Usava Jeans, não estava maquilada e seus cabelos precisavam urgentemente de uma lavagem, segundo Barbara Bennett, a secretária que a atendeu. Tal como milhares de outras jovens, trazia uma carta e um script para Paul. Barbara, em geral, mandava essas meninas embora. Mas por algum gesto inexplicável de gentileza, resolveu dizer a Francie Schwartz que voltasse, à tarde. Paul estaria lá. A garota que voltou, horas mais tarde, era completamente diferente da maltrapilha da manhã. Francie havia comprado um vestido e ido ao cabeleireiro. Barbara Bennett apresentou-a a Paul, e ele a levou-a para sua sala. À noite, os dois saíram juntos, para coquetéis e jantar, e passaram a noite na casa dele.

A noite de Joan (Baez) na cama de John (Lennon)
As celebridades geralmente são notadas pelo que fazem e não pelo que deixam de fazer. Daí a curiosidade deste episódio entre John Lennon e Joan Baez, contado pela própria Juan em recente entrevista a Rolling Stone. Apesar de ter ficado famosa muito antes dos Beatles, Juan já era fã incondicional dos rapazes quando eles atravessaram o atlântico para a conquista da América. E, um belo dia, a turnê dela cruzou com a turnê deles (imaginem só, num buraco do colorado chamado Red Rocks) e la Baez foi apresentada aos Fab Four. Quando a excursão dela terminou, Joan agregou-se à caravana maluca dos liverpudlianos e foi parar com eles em Los Angeles. Lá, os Beatles se instalaram em Bel Air. Ao cair da noite, abriram-se as portas para as tietes, e logo formaram uma ruidosa multidão na sala de estar. Segundo Joan, era um verdadeiro self-service sexual: o Beatle descia de seus aposentos e escolhia a tiete que mais lhe agradasse para – vocês sabem...Em meio a toda essa confusão, a pobre Joan, meio esquecida num canto, foi salva por John Lennon. Ao saber que ela não tinha onde dormir, John convidou-a para o seu quarto. Segundo, Joan, “havia lá uma cama do tamanho de uma piscina e eu disse a ele: ‘Bem, John, quando você quiser dormir, pode usar a outra metade da cama, tá legal?’ Eu não queria pressioná-lo, porque sabia como os Beatles eram solicitados sexualmente o tempo todo”. Joan adormeceu e acordou no meio da noite, quando John voltava ao quarto. Lennon se aproximou dela, meio constrangido, como quem se sente obrigado a transar. Joan então falou: “Deixa pra lá, John, você deve estar tão cansado como eu. Não precisa provar nada para mim.” E Lennon, com um suspiro: “Maravilha! Isto é um alívio...porque o que eu tive de transar lá embaixo com aquelas tietes não está no gibi...” E foram dormir, inocentes como duas crianças.

Roberto Muggiati

Na mesma semana, Paul requisitou um emprego para Francie, na Apple, e, apesar de ressentimentos gerais, ela acabou instalada numa escrivaninha num canto do departamento de publicidade. Três semanas se passaram, Francie não fazia nada de especial, além de namorar Paul. Parecia firmemente radicada na firma, até que, uma noite, Jane apareceu inesperadamente. A turma regular de tietes que fazia ponto em frente à casa de Paul (quando ele estava em casa) tentou avisá-lo pelo telefone interno. Ligou. Mas ele pensou que fosse brincadeira, quando lhe disseram que Jane voltara da excursão e estava abrindo a porta naquele momento com sua chave. E tal como acontecera com Cynthia Lennon, antes, Jane também descobriu outra mulher em seu roupão de banho. Jane saiu em disparada, momentos depois, do automóvel. A Sra. Asher veio mais tarde apanhar as roupas, os pratos e as panelas da filha. Desde então Jane mal voltou a ver ou a falar com Paul. Os anos se passaram e ela se ressentiu cada vez mais de sua associação com ele. Sempre se recusou a discutir o assunto em público. Hoje, é uma das atrizes inglesas mais conceituadas. É casada com o caricaturista político Gerald Scarfe, com quem mora em Londres. Tem um filho e uma filha. Francie Schwartz logo foi mandada embora. De volta aos EUA, escreveu um livro sobre seu ligeiro caso com Paul, intitulado Body Count e impresso pela Rolling Stone Press. Linda Eastman continuou a telefonar e a escrever. No início do outono convidou-a a ir a Londres, para conhecer sua casa. Ela nunca mais saiu.
Pattie Harrison sentia-se frustrada. Em 1972, após seis anos de casamento com George, jamais se realizara. Estava parada no tempo, aos 26 anos: proibida de seguir uma carreira própria e, quase sempre, isolada na lúgubre mansão do casal, a 50 quilômetros de Londres. Pattie queria muito criar família. Mas jamais engravidou. George era, então, o único Beatle sem filhos. Por estranho que pareça, o fato o constrangia. Ele e a mulher submeteram-se a exames de fertilidade. George, ao discutir o problema com alguns amigos íntimos, disse que o problema do ponto de vista médico, era dele mesmo. Mas suspeitávamos que não era verdade. Que o problema era de Pattie. Que George estava apenas sendo cavalheiro e assumindo a culpa. (Mais tarde George ganhou um filho, Dhani, de seu segundo casamento. Pattie, até hoje, não teve nenhum). Ela queria adotar. Ele se recusou. Tiveram discussões esquentadas por causa disso. E Pattie começou a fugir, passando noites em Londres. Sua arma mais forte contra George era justamente o melhor amigo dele, desde a dissolução dos Beatles: Eric Clapton, cuja carreira estava então em escalada. Clapton se tornara talvez o guitarrista virtuose mais admirado do rock. E já há muito tempo estava loucamente apaixonado por Pattie – isso era evidente aos olhos de quem os via juntos, inclusive George. Ele se derretia no mais atroz romantismo, na presença dela. No momento em que se sentiu infeliz no seu relacionamento com George, Pattie estimulou os desejos do atraente e romântico guitarrista. Começo a manipular a paixão de Eric, a fim de controlar e irritar George. “Ela me usou, sabe?”. Reconhecera Clapton, mais tarde, “e eu me apaixonei loucamente!”.
A paixão acabou consumindo Eric, que se retirou para sua mansão de baronete (Hurtwood Edge) e começou a tomar heroína na veia, a fim de aliviar seus sofrimentos. Trancado ali, durante meses, acabou desgastado e envelhecido pelos efeitos da heroína. Naquela época, leu o grande poema persa de amor, Layla e Majnum, de Nazimi, sobre o amor obsessivo entre um homem atormentado e uma mulher casada. Pattie ficou sendo a sua Layla. Enquanto isso, a saúde decaía perigosamente. Eric viajou para Miami para gravar sua linda e sofrida obra-prima, Layla, dedicada a Pattie – talvez a canção de amor mais apaixonada da era pop. Mas, enquanto o disco subia nas paradas, a heroína descia-lhe pelas veias, em Hurtwood Edge. Durante o verão de 1971, George recebeu elogios no mundo inteiro por seu Concerto para Bangladesh, realizado em 1º de agosto, no Madison Square Garden de Nova Iorque. Esse espetáculo de caridade foi organizado com a finalidade de angariar fundos para a população faminta do Paquistão devastado pela guerra.
George convidou uma lista impressionante de superstars para aparece no palco em sua companhia: Ringo, Leon Russell, Ravi Shankar e, como convidado surpresa, Bob Dylan. Até Eric Clapton, apesar de doente, conseguiu aparecer.
Harrison convidara também os outros Beatles. Mas Paul se recusou, sumariamente. Não quis confundir o público com o que poderia aparentar ser uma reunião dos Beatles. John aceitou o convite e viajou para Nova Iorque com Yoko, hospedando-se no Hotel Park Lane. Na manhã do concerto, Jonh e Yoko brigaram feio. Ao ligar para George, John ficou furioso quando soube que George não queria Yoko no palco. George achava que seria um insulto aos grandes do rock’n’roll dividir o mesmo palco com a mulher de John. Lennon ficou tão zangado que saiu do hotel 15 minutos depois de entrar e pegou o primeiro vôo de volta para Londres. Yoko ficou e só foi encontrá-lo 48 horas mais tarde. O relacionamento entre George e Pattie acumulou tanta força explosiva que carregou junto consigo o casamento de Ringo e Maureen.
George enganava Pattie freqüentemente, por volta de 1973. Não seria errado dizer que ele voltar ao seu velho estilo de dom-juan. Parecia querer seduzir toda mulher que lhe aparecia pela frente. Numa história revelada aqui pela primeira vez, um dos objetos das conquistas de George foi a mulher de Ringo, Maureen. Mas o motivo que o levou de repente a querer transar com a mulher de um dos seus melhores amigos – conhecendo-a, então, há dez anos – é algo que continua inexplicável.
Certa noite Maurren e Ringo convidaram George e Pattie para jantar na casa deles. Depois e uma suculenta refeição, regada com muito vinho, todos ficaram sentados à volta da mesa, com George dedilhando sua guitarra e cantando canções de amor. De repente, ele descansou a guitarra e disse num ímpeto que estava apaixonado por Maureen.
Os demais ficaram emudecidos. Maureen enrubesceu até a raiz dos cabelos e balançou a cabeça, Ringo esbravejou e Pattie explodiu em lágrimas, trancando-se no banheiro. Pouco depois os Harrison saíram.
Poucas semanas depois, Pattie – que voltava de uma orgia de compras pelas lojas de Londres – chegou em casa e encontrou, segundo se diz, George na cama com Maureen, da mesma forma como Cynthia Lennon e Jane Asher encontraram seus homens com outras mulheres. Nem Maureen nem Pattie jamais confirmarão que este incidente na verdade aconteceu, mas nenhuma das duas tampouco jamais o negará. O que Pattie diz a respeito: “Não quero arranjar complicações para ninguém.”
Mais tarde, quando perguntaram a George por que, entre todas as mulheres do mundo, ele escolhera a esposa do grande amigo, ele deu de ombros e disse: “Incesto.” (Ringo e Maurren se divorciaram em 1975, após 10 anos de casamento. Tinham três filhos.)
Como vingança pela gracinha de George, Pattie começou a levar uma vida independente e a seguir sua própria carreira, contra a vontade explícita do marido. Concordou em trabalhar como modelo de novo, teve seu primeiro caso extra conjugal (com Ron Wood, guitarrista do grupo Faces, atualmente tocando com os Rolling Stones), e não muito tempo depois fez as malas e partiu enquanto George estava tirando umas férias, o que George nunca questionou. Pattie deixou a própria Inglaterra por uns tempos, e foi se estabelecer em Los Angeles com a irmã Jenny, que se casara com o astro de rock Mick Fleetwood. Não era coincidência o fato de que Eric Clapton também estava morando nos EUA, em Miami. Clapton conseguira uma recuperação quase miraculosa da heroína. Amigos que se preocupavam com ele levaram-no à Dra. Margaret Petterson, que obtivera resultados promissores no tratamento dos viciados em heroína com acupuntura elétrica. Isso, ao que se diz, não somente aliviava a dor da retirada da heroína, mas era uma ajuda inestimável para manter a pessoa longe da droga.
Clapton, estimulado por narrativas do rompimento do casamento de Harrison, fez o tratamento da Dra. Petterson. Finalmente, em 1973, ele estava limpo quando gravou seu álbum de retorno, 461 Ocean Boulevard. O álbum foi um sucesso enorme e deu a Clapton a confiança necessária para se lançar numa turnê pelos EUA e Inglaterra. Quando ele partiu em turnê, Pattie juntou-se a ele no caminho, e ficaram juntos desde então. Casaram-se finalmente em 27 de março de 1979, mas isso foi apenas uma formalidade, pois raramente duas pessoas estiveram tão profundamente ligadas uma à outra. Até hoje eles continuam a ser tão românticos e alegres quanto eram no começo.
Em meados doa anos 70, nos escritórios da A & M Records, George conheceu uma secretária de 27 anos, nascida no México, chamada Olivia Trinidad Arias. Ela era doce, morena e bonita, e não custou muito para que ele se apaixonasse por ela. O relacionamento de George com Olivia foi provavelmente a primeira vez em que ele, em toda a sua vida, esteve realmente apaixonado por alguém, e não simplesmente empolgado com uma copiazinha qualquer de Brigit Bardot. Ela se mudou com ele para uma casa alugada em Beverly Hills e mais tarde os dois viajaram para o Havaí e para Londres. Já estavam juntos há aproximadamente quatro anos quando Olívia, para extremo prazer de George, deu à luz ao primeiro filho deles, que se chamou Dhani, em 1º de agosto de 1978. George e Olivia se casaram um mês depois, numa cerimônia discreta em sua casa na Inglaterra.
Olivia permanece uma figura distante de todos os associados de George. Ele protege muito cuidadosamente seu relacionamento com ela. Ela é mantida longe da vida de celebridades e só é apresentada aos amigos mais íntimos dele. Levam uma vida sossegada em seu lar britânico, com muito tempo livre para brincar com Dhani ou para trabalhar no jardim.
Não obstante, George parece não muito contente. Tal como com os outros Beatles, há algo que o corrói. O primeiro pensamento é que é a falta que sente dos seus antigos companheiros, ou a perda da glória de ser um Beatle, mas na verdade é justamente o contrário. Tratava-se provavelmente da sombra onipresente dos quatro meninos de ouro de sempre em cima de tudo o que ele faz.
Infelizmente, George já não grava muito. Ele recentemente desenvolveu uma tendência por carros de corrida e pilotou em diversas promoções de caridade. É o terceiro Beatle mais rico e se tornou um grande e bem-sucedido produtor de cinema. Um de seus investimentos mais lucrativos foi a comédia de Monty Python The Life of Brian, que ele ajudou a realizar, participando dos custos, que foram ,5 milhões de dólares. Até o momento em que este livro estava sendo escrito, o filme já tinha rendido 70 milhões de dólares.
Em 1981 George publicou uma edição de sua autobiografia, exorbitantemente cara, encadernada em couro, através de um pequeno e muito exclusivo editor de Londres. O volume é na maior parte composto de reproduções a cores de desenhos acompanhando as letras originais de suas canções, além de algumas fotografias, mas pouco texto de valor. Em suas reminiscências dos dias com os Beatles, ele omite qualquer referência a John Lennon, como se ele nunca tivesse existido. Houve um dia, há muito tempo, em que o jovem adorava tanto John que o seguia onde quer que ele fosse, se vestindo e se penteando igual a ele. Depois, os dois não tinham nada que dizer um ao outro durante os cinco últimos anos da vida de John.

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