domingo, 29 de março de 2009

A VIDA ESCANDALOSA DOS BEATLES - II


O primeiro capítulo desta série de três, publicado na semana passada, falava das aventuras e desventuras amorosa e sexuais dos Beatles. Continuando esta condensação do livro The Love You Make, apresentamos relatos inéditos sobre as relações do famoso conjunto com as drogas, inicialmente a maconha, a que foram introduzidas por Bob Dylan, e depois coisas mais pesadas, como a heroína - no caso de John. E também o malogro sofrido pelos quatro na Índia, quando caíram no conto do misticismo, representado pela figura dúbia do Maharishi Mahesh Yogi.

Em 28 de agosto de 1964, em evento ligeiro mas auspicioso ocorreu no Hotel Delmonico, de Nova Iorque, que iria afetar a cosnciência de mundo: Bob Dylan fez os Beatles experimentarem Marijuana pela primeira vez na vida. Antes disso, eles rejeitavam a macanha até com paixão; no que lhes dizia respeito, os que fumavam maconha eram viciados, para eles na mesma categoria dos viciados em heroína. Pouco depois da conversão feita por Dylan, eles começaram a compor sob o efeito da erva.Dylan lhes forneceu a chave que abriria uma porta para uma nova dimensão na música pop, e eles levaram a juventude do mundo inteiro a cruzar essa porta com eles.
John Lennon há muito tempo esperava conhecer Bob Dylan, apesar de não tanto quanto desejava conhecer Elvis Presley. Para John, Elvis era um Deus que atingira um grau indescritível de santidade. Dylan era um contemporâneo, e para John, apenas um outro competidor, apesar da pontada de inveja que John sentia pelo dom que Dylan tinha para construir suas letras. Fazia pouco tempo que John começara a sentir um interesse especial em escrever suas próprias letras; sua primeira canção introspectiva, autobiográfica, foi Ill Cry Instead, feita para a trilha sonora do primeiro filme dos Beatles, A Hard Day’s Night (Os Reis do Iê-iê-iê), mas que não chegou a ser editada.
Eles foram apresentados por um amigo comum, o escritor Al Aronowitz, que foi um dos primeiros jornalistas a verdadeiramente escrever sobre música pop. Aronowitz fizera amizade com John na primavera anterior, em Londres, enquanto escrevia sobre ele para o Saturdey Evening Post. Nessa época John disse a Aronowitz que gostariad e conhecer Bob Dylan, mas somente “em seus próprios termos”, pois John achava que se tornara seu “ego gêmeo”. Naquele 28 de agosto, depois de ter tocado no Forest Hill Tennis Stadium, e depois das caras sorridentes dos Beatles terem aparecido na capa do Life, John estava pronto. Aronowitz chegava de Woodstock, com Dylan, numa perua Ford azul, dirigida por Victor Mamoudas, empresário das turnês de Dylan e seu grande amigo pessoal. No lobby do hotel se viram cercados por uma escolta de dois policiais que os acompanhou até o andar dos Beatles.Quando a porta do elevador se abriu, Dylan e companhia ficaram chocados de ver ainda mais policiais, além de uma dúzia de pessoas conversando alegremente e tomando drinques. Deste grupo, que esperava para poder entrar na suíte dos Beatles, faziam parte vários repórteres, disc-jockeys e os grupos The Kingston Trio e Peter, Paul e Mary.
Dylan era mais baixo do que os rapazes pensavam. Após desajeitadas apresentações, oficiadas pelo empresário Brian Epstein, a tensão e o embaraço naquele quarto eram palpáveis. Brian levou os convidados até o living, numa tentativa de evitar que a noite naufragasse. Ele perguntou a Dylan e amigos o que gostariam de beber, e Dylan respondeu: “Vinho barato.”
Enquanto alguém foi arranjar o vinho, mencionou-se obliquamente que havia algumas pílulas estimulantes em disponibilidade, mas Dylan e Aronowitz reagiram fortemente contra essa idéia.
Ambos eram na época convictamente antiquímicas, especialmente bolinhas. Já os Beatles tomavam esses estimulantes, nem tanto como drogas, mas como um auxílio para segurar a barra de intermináveis compromissos artísticos e sociais. Em lugar das pílulas, sugeriu Dylan, talvez eles gostassem de experimentar algo orgânico e verde, nascido do doce e macio seio da Mãe Terra.
Brian e os Beatles olharam uns para os outros com apreensão. “Nunca fumamos maconha antes”. Brian finalmente admitiu.
Dylan olhou, sem acreditar, de um rosto para o outro. “Mas e a canção de vocês?”, perguntou. “Aquela em que vocês dizem que ficam altos?”
Os Beatles estavam estupefatos. “Que canção?”, John conseguiu perguntar.
Dylan disse: “Você sabe...”, e em seguida cantou: “And when I toutch you I get high, I get high, I get high...”
John enrubesceu de tanto constrangimento. Dylan se referia ao grande sucesso da primeira fase dos Beatles, I Wanna Hold Your Hand. “As palavras não essas”, disse John. “São ‘I can’t hide, I can’t hide, I can’t hide’...” O embaraço era total. A confusão de Dylan entre I can’t hide e I get high (não consigo entender e fico alto) demonstrava que fora traído pelo subconsciente, ou talvez fosse aquilo que em língua inglesa se chama wishful thinking, e que poderia ser traduzido, com alguma dificuldade, por pensamento tendencioso.
Dylan resolveu quebrar a tensão acendendo o primeiro baseado. Após dar instruções sobre como se devia fumar, passou-o para John, John pegou o bagulho, mas estava com medo de ser o primeiro a experimentar, e passo-o para Ringo, a quem chamou de “meu provador real”. Ringo mandou ver, e queimou o baseado inteiro sozinho, enquanto Dylan e Aronowitz enrolavam mais uma meia dúzia.
Ringo começou a rir primeiro, provocando a liberação dos outros. Tal como a maioria dos que fumam maconha pela primeira vez, eles achavam muita graça nas coisas mais triviais. Dylan ficou olhando durante horas enquanto os Beatles estouravam de rir, Às vezes com algo autenticamente engraçado, mas na maioria dos casos com pouco mais que um olhar, uma palavra ou uma pausa na conversa. Meses depois, “vamos rir um pouco” virou código para “vamos fumar maconha”.

A ordem no barato: os Beatles se tornam membros muito loucos do Império
Em 15 de junho de 1965, os nomes dos Beatles foram incluídos na Lista de Honra do Aniversário de Sua Majestade, a Rainha Elizabeth. Eles iam receber a comenda de Membros do império Britânico, uma honraria espantosa para um grupo de rock – ou para qualquer pessoa na faixa dos 20 anos de idade. “Existe alguma coisa mais importante do que isto?”, perguntou seu agente Brian Epstein. Houve uma certa surpresa pelo fato de o próprio Brian não ter sido escolhido para a insígnia, já que seu nome era praticamente sinônimo dos Beatles, aos olhos do povo britânico. Ele deduziu que havia ficado fora por ser judeu e homossexual. Paul, George e Ringo ficaram entusiasmados com a grande honra. Mas John Lennon, não. Odiou a idéia de virar Membro do império Britãnico. A realeza e a estrutura de classes na Inglaterra sempre estiveram entre os seus alvos favoritos, e a idéia de cerrar fileiras encheu-o de culpa e revolta. Ao ser informado da honraria, numa carta pessoal do porta-voz da rainha, John ficou tão contrariado que atirou a carta a uma pilha de correspondências de fãs e jamais a respondeu. Brian, porém, insistiu numa resposta e aceitou cortesmente em nome de John. No dia da investidura, uma das maiores multidões – e das mais jovens – em toda história cercou o Palácio de Buckinghan, gritando “Deus salve os Beatles!” O quarteto entrou muito louco, tal como havia participado – muito cheio de maconha – das filmagens de Help! (Socorro). No dia da cerimônia, John escondeu vários cigarros em suas botas. Pouco antes da entrega os quatro foram para um banheiro pequeno que dá para uma ante-sala particular e deram uns tapas, tentando expelir a fumaça por uma janelinha. John trouxera um baseado extra, na esperança de encontrar o Príncipe Charles, que na época tinha 16 anos e era, sem dúvida, fã dos Beatles. Charles não foi encontrado em parte alguma e a história jamais saberá o que poderia ter acontecido se outros houvessem se encontrado naquele dia. Em 1969, Lennon ditou uma carta para a rainha, dizendo: “Sua Majestade, estou devolvendo esta Ordem do Império Britânico em protesto contra o envolvimento da Grã-Bretanha no conflito Nigéria/Biafra, contra o nosso apoio aos EUA no Vietnã e contra a queda de Cold Turkey na parada de sucessos. Com amor, John Lennon.” (Cold Turkey era o disco mais recente de Lennon, descrevendo sua tentativa de largar a heroína).

Eles riram muito, por exemplo, com Brian que ficou dizendo: “Estou tão alto, estou no teto. Estou tocando no teto...” Depois que a fumaça passou, chamaram um camareiro para limpar o quarto dos restos de bebidas e do jantar que eles tinham acabado momentos antes da chegada de Dylan. Tinham risos convulsivos ao menor gesto pobre do garçom.
Paul estava tomado pela “importância” da ocasião. “Estou pensando pela primeira vez”, disse ele, “realmente pensando”. Ele estava tão seguro que produzia em sua cabeça profundas gemas de sabedoria, que pediu a um de seus empresários, Mal Evans, que ficasse sempre junto dele, tomando nota de tudo que dissesse. Segundo Paul, seus pensamentos naquela noite deveriam ser registrados para a posteridade. Evans guardou essas anotações até o dia que morreu em Los Angeles, em 1976. Elas foram confiscadas pela polícia e se perderam junto com alguns outros de seus pertences.
Aquela noite foi o começo de uma longa, se bem que intermitente, amizade com Dylan, e eles combinaram de voltar a se ver em Nova Iorque quando os Beatles terminassem a turnê que os levara aos EUZ.
Foi na primavera de 1965, durante a filmagem de Help!, que John e Cynthia Lennon, George Harrison e Pattie Boyd (mais tarde Harrison), contra a vontade deram um pulo no futuro. George se tornara amigo do dentista dos Beatles em Londres, Eric Cousins (este não é o verdadeiro nome dele). O cuidado com os dentes se tornara uma grande preocupação para os Beatles desde que se tornaram as pessoas mais fotografadas do showbiz de sua época.
Os Beatles achavam que o dentista era uma espécie de gozador chegado a uma orgia, e suspeitavam de intenções amistosas dele, mas depois de muita insistência George e John aceitaram um convite para jantar em seu apartamento.
Os quatro convidados se lembram de ter visto os cubos de açúcar bem arrumadinhos sobre a lareira, no living, assim que entravam, mas ninguém chegou a tocar no assunto. A conversa durante o jantar rolou desde sexo até um cara norte-americano chamado Timothy Leary, que nenhum dos convidados conhecia, exceto John, que já ouvira falar alguma coisa sobre uma droga nova e assustadora chamada LSD.
Depois que o jantar foi consumido e sem explicar o significado do que estava fazendo, o dentista, com certo ar ritualístico, colocou um cubo de açúcar em cada xícara de café servida. Pattie se mostrou relutante em terminar a dela, mas Cousins insistiu que ela tomasse até a última gota.
Quando todo o café já tinha sido tomado, Cousins explicou que acabara de fazer Cynthia e Pattie ficaram tomadas de terror, não porque já compreendessem os efeitos do LSD, mas porque tiveram a impressão de que era algum tipo de afrodisíaco e que uma orgia viesse a acontecer. George, John e as garotas imediatamente pediram desculpas e se prepararam para sair, mas o dentista insistiu que eles permanecessem; não seria seguro estar nas ruas quando o efeito da droga começasse. Mas os Beatles não desistiram de ir embora, e rapidamente vestiram seus casacos, ganhando as escadas. Cousins, preocupado com a segurança deles, seguiu-os de carro com sua namorada. George dirigiu a uma velocidade enlouquecida pelas ruas de Londres tentando livrar-se dele. Cousins conseguiu ficar grudado na traseira do carro de George até Pickwick Club, uma casa noturna então muito popular, aonde eles decidiram ir. Foi no Pickwick que coisas estranhas começaram a acontecer. O salão parecia maior, mas comprido, a luz negra assemelhava-se a uma série de luminosíssimos espocares de fogos. A multidão à volta deles parecia ondular e pulsar, fazendo-os se sentirem tão pouco à vontade que saíram poucos minutos depois. Com Cousins atrás deles, aconselhando-os a voltarem para seu apartamento, os dois casais dirigiram-se para o Ad Lib Club, onde esperavam que o ambiente e as pessoas mais familiares a eles pudessem ajudar a acalmá-los. Durante o caminho Pattie teve que ser segura para não dar vazão a uma compulsão inexplicável de quebrar todas as vitrines das lojas ao longo da rua. Fazia poucos momentos que eles estavam no Ad Lib, quando o dentista, que chegara pouco depois, sentou-se à mesa deles e se transformou num porco, ali mesmo na cadeira.
Eles deram um jeito de sair do clube, deixando o dentista e namorada para trás. George levou todos de carro para sua casa. A viagem de 45 minutos levou horas, porque George não conseguia ir mais rápido que 15km por hora. Cynthia sentada atrás, ficou enfiando os dedos na garganta, na esperança de vomitar os cubos de açúcar. John não conseguia parar de falar. Pattie estava aterrorizada e tendo uma crise de claustrofobia no pequeno automóvel. Quando eles finalmente chegaram à casa de George, trancaram o portão, a aporta e todas as janelas. George pegou sua guitarra e começou a tocar, espantado de ver as notas saírem do instrumento como se fossem tiras de plástico colorido. John se ocupou em fazer uns desenhos. Um era dos rostos dos quatro Beatles dizendo: “Nós todos concordamos com você.”
Pattie e Cynthia não conseguiram dormir, nem estavam tendo alucinações agradáveis. Pattie estava enroscada com seu gatinho no chão do quarto, convencida de que tinha sido transformada permanentemente e que e que nunca mais voltaria a ser a sã Cynthia tinha a esperança de descobrir um meio de se ver livre daquilo, porque estava tomada pela terrível convicção de que o que lhe acontecia era irreversível. As drogas continuaram a desempenhar um importante papel nas vidas dos Beatles, especialmente para John Lennon. Por volta de 1970 a paranóia já era uma constante na vida de Lennon. Drogas e paranóia andavam de mãos dadas, e John estava tomando drogas. Yoko alega que, fosse essa droga qual fosse, não era heroína. Não obstante, era uma droga (possivelmente metadona) que eles achavam necessária. Por volta de junho de 1972, era muito perigoso para John, sob constante vigilância do governo, andar mexendo com droga de novo. (Por causa dos antecedentes de John com o uso de dorgas, e de suas atividades contra a guerra, a administração Nixon estava negando a prorrogação de seu visto de permanência e ameaçando-o de deportação.) Com medo de irem parar num hospital, ou de ficar em seu apartamento, que era espionado, eles se saíram com a idéia extraordinária e ingênua de curtir o seu barato na traseira de uma limusina, numa viagem através do país. Uma vez que George e Ringo estariam em Nova Iorque naquele mês, esperando vê-los, John e Yoko se pegaram nisso como sendo o momento de fugir. Mais tarde John disse a Tony King, que trabalhou para ele, que ele e Yoko tinham vergonha de encontrar George e Ringo na condição em que se achavam. Eles passaram toda uma semana no assento traseiro daquela limusina, viajando pelo país, se escondendo. A identidade do motorista permanece em mistério, mas, ou era um amigo, ou era alguém muito bem pago. Lá pelo meio do verão eles voltaram a Nova Iorque, preparados para encarar o mundo outra vez.


Um LP acima (e abaixo) de muitas suspeitas

As 12 canções do LP Sergeant Pepper Lonely Heart’s Club Band (1967) estabeleceram novos padrões de criação na música pop. Foi gravado em apenas quatro meses, a um custo de 100 mil dólares. Era tão diferente e impressionante que, quando Brian Wilson, dos Beach Boys, o ouviu pela primeira vez, parou de trabalhar em seu próprio álbum, que estava sendo gravado, achando que o disco quintessencial já tinha sido feito.
Muitas canções nesse álbum foram rapidamenteproibidas em muitas estações de rádio por todo o mundo, incluindo a BBC da Inglaterra, por causa de supostas referências ao uso de drogas. A Day in the Life foi proibida na Inglaterra por causa da letra de Paul MacCartney – “found my way upstairs and had a smoke/somebody spoke and I went into a dream” (fui escada acima e dei uma fumada, alguém falou alguma coisa e eu embarquei num sonho) –, uma referência bastante óbvia à maconha; apesar de que, na mesma canção, “for thousand holes in Blackburn, Lancashire” (quatro mil buracos em Lancashire) não tinha nada a ver com as marcas no braço de um viciado, como também se alegou. Ringo realmente canta em With a Little Help from my friends: “I get high with a little help from my friends” (Eu fico alto com uma ajudazinha dos amigos), apesar de que os Beatles alegaram na época que o que eles queriam dizer era “espiritualmente alto, elevado”.
Certamente a sonhadora Lucy in the Sky With Diamonds, de John, com suas “tangerine trees and marmalade skies” “tangerineiras e céus de geléia) foi inspirada numa viagem de ácido, mas foi apenas acidente que o título da canção servisse como anagrama LSD.
Lucy era uma coleguinha de escola do filho dele, Julian, e Lucy in the Sky With Diamonds (Lucy no céu com Diamantes) era uma frase que Julian usou para descrever um desenho dela que ele fez um dia na escola. Da mesma forma, o buraco que Paul estava consertando em I’m Fixing a Hole (Estou Consertando um Buraco) não era no braço de um viciado em heroínas, nem “Henry the Horse” (Henry, o cavalo), de John, no circo surrealista de For the Benefit of Mr. Kite (Em benefício do Sr. Kite), era um código para heroína.
John tirou o nome de um poster de um circo na época vitoriana, que comprara numa loja de antigüidades.

Foi em fevereiro de 1968 que os Beatles me informaram que pretendiam terminar seu curso de meditação transcendental, que começaram em agosto de ano anterior em Bangor, no norte de Gales. Mas desta vez os Beatles tinham concordado com um curso não apenas de dez dias, mas em se retirar para Rishekesh, no remoto e selvagem norte da Índia, para um período de três meses de sérios estudos. O domínio da meditação transcendental, eles esperavam, lhes daria sabedoria necessária para dirigir a Aplle, sua nova empresa.
Em Rishekesh, diziam eles, iriam viver num ashram (nome sânscrito para “lugar de retiro”) – sem tomar drogas nem álcool. Em 16 de fevereiro eles partiram para Rishekesh. O grupo de viajantes consistia de John e Cynthia Lennon, George e Pattie Harrison, Paul MacCartney e Jane Asher, Jenny Boyd (irmã de Pattie), o cantor Donovan e Mal Evans, seu empresário de turnês.
Eles viajaram primeiro de jato para Nova Déli, depois de táxi e de jipe, e eventualmente no lombo de burros. Quando a estrada se tornou impossível até mesmo para os burros, eles percorreram a pé o último quilômetro. Pela primeira vez em muitos anos os Beatles estavam afastados do mundo – e a imprensa afastada dos Beatles. A ausência de notícias sobre o que estava acontecendo no ashram tantalizava o público. Aqui se conta pela primeira vez o que realmente aconteceu nessa “jornada espiritual” dos Beatles. No ashram juntaram-se a eles o Beach Boy Mike Love, o músico de jazz Paul Horn, a atriz americana Mia Farrow, com a irmã, a tia, e o irmão, John, além de uns vinte outros estudantes, menos célebres. No final, o ashram era mais um hotel do que o campo espartano de um guru que os Beatles esperavam. O local de dormir era num complexo de pitorescos bangalôs de pedra, com quatro ou cinco quartos cada um. Os aposentos dos Beatles tinham camas com baldequinos e sólida mobília inglesa. Cada qual era equipado com um moderno banheiro, e havia até aquecedor elétrico para as noites frias. As refeições eram tomadas comunitariamente, numa mesa comprida de madeira escavada e mão, debaixo de uma treliça coberta de parreira, perto dos Ganges. A comida era servida por uma grande equipe de empregados, e preparada numa cozinha completamente moderna, por um chef de primeira qualidade. A casa de Maharishi Mahesh Yogi, pouco distante do resto do conjunto, era uma construção longa, baixa e moderna com sua própria cozinha e equipe de empregados. Havia até uma mulher para fazer massagens diárias nas garotas. O item de luxo excessivo que mais despertava olhares suspeitos era um pátio de aterrissagem para helicóptero usado pelo Maharishi para ir e vir em suas viagens por toda a índia. Este era o homem que George um dia classificou de “não-moderno”. Uma vez estabelecido no ashram, eles começaram a estudar aplicadamente. Acordavam todos os dias ao amanhecer, tomavam café bem cedo e se dedicavam a longas aulas, passando a tarde em sessões de meditação. Todas as noites depois do jantar, sem o auxílio de drogas ou álcool, os rapazes pegavam suas guitarras, à plena luz do luar, para cantar e escrever canções. A quantidade e qualidade das canções compostas na índia eram impressionantes, mesmo para aqueles que os conheciam. Trinta dessas canções fariam parte do próximo álbum. Todo mundo naquele conjunto de bangalôs parecia tomado pela musa. Donovan escreveu uma das suas mais belas canções, Jennifer Juniper, para Jenny Boyd. Os ânimos estavam amorosos e doces. Assim que chegaram, Cynthia se sentiu ferida ao saber que John fizera preparativos para que eles dormissem em quartos separados. John explicou que a distância seria boa para a meditação e que, de qualquer forma, eles estariam se vendo constantemente no pequeno campo. Cynthia recentemente tomara conhecimento da presença de uma pequena japonesa chamada Yoko Ono em suas vidas. Mal podia ela imaginar, no entanto, que John pensara em levar Yoko, em vez ela, com ele para a índia, ou até mesmo levar Yoko, além dela, se tivesse conseguido imaginar um meio de fazê-lo. No décimo dia, Ringo e Maureen voltaram para casa. Disseram aos repórteres que foram recebê-los em Londres, que tinham saído por causa do estômago delicado de Ringo, que não agüentava a comida cheia de especiarias, mas foi porque também eles odiaram o ashram. A cartada final foi a aversão de Maureen a insetos voadores. Todas as noites, antes que Maureen fosse dormir, ela arranjava alguém para matar todos os mosquitos e demais insetos que houvesse no quarto e retirar as carcaças. Paul e Jane agüentaram seis semanas. Paul simplesmente não estava alcançando nada daquilo. Nem sequer acreditando. Mas, quando foram recebidos pela imprensa em Londres, não disseram nada disso, só que tiveram vontade de voltar para casa. John e George, no entanto, permaneceram como verdadeiros fiéis, apesar do crescente ceticismo dos amigos.
O crítico mais severo do Maharishi acabou sendo o amigo de John, Magic Alex. Alex foi chamado para Rishekesh por John, que sentia falta da companhia dele. Quando Alex chegou, ficou boquiaberto com o que viu. “Um ashram como camas de baldequino?”, perguntou ele incrédulo. Também era bastante evidente que John estava totalmente sob o controle do Maharishi. John estava completamente livre do álcool e das drogas há já mais de um mês, quando Alex chegou, e estava com o aspecto mais saudável que podia apresentar nos últimos anos, mas ainda assim Alex sentiu que o Maharishi estava ganhando mais do que estava dando. Alex estava lá há apenas uma semana quando ouviu dizer que o Maharishi esperava que os Beatles depositassem de 10 a 25% do seu lucro anual numa conta suíça em seu nome. Lá pelo final da décima semana, Alex estava determinado a minar a influência do Maharishi. Começo a contrabandear vinho para o conjunto de casas. Os homens não beberam, mas as garotas sim. Tarde da noite, Alex distribuía o vinha às mulheres enquanto John e George escreviam canções. Durante uma dessas sessões de bebida secretas, tarde da noite, uma loirinha bonitinha que era enfermeira na Califórnia, admitiu que, durante uma consulta particular com o Maharishi, ele lhe dera galinha para jantar.
O menu do Maharishi se tornou objeto de grande debate durante toda a semana seguinte, quando se espalhou pelo ashram a história de que alguém acusara o mestre de contrabandear galinha para aquela comunidade vegetariana. Lá pela décima-primeira semana a história ficou pior. A mesma garota confidenciou a Alex que não apenas fora servida galinha, mas que o Maharishi fizera tentativas sexuais para cima dela.

John e Yoko mergulham no inferno da heroína
John e Cynthia Lennon se divorciaram em 1969, e durante muitos meses depois disso John e Yoko Ono viveram de malas na mão, feito vagabundos sem lar. “Andamos um pouco jogados para lá e para cá”, diz Yoko. “Éramos basicamente dois amantes ilícitos sem um lugar para ir”. Eles eventualmente terminaram na antiga casa de Ringo, um típico apartamento de porão londrino.
Foi nesse apartamento, sentindo-se mais do que magoados, quase como foras-da-lei, diz Yoko, que eles começaram a tomar heroína. Na colocação de Yoko, eles tomaram heroína “como uma celebração de nós mesmos
enquanto artistas”. “É claro”, diz Yoko, “que George diz que fui eu quem viciou John em heroína, mas isso não é verdade. John não tomaria nada que não quisesse”. Ainda assim muitos dos íntimos de John viram a heroína como o meio de Yoko passar a ter completo controle sobre John. Se houve um elemento isolado que tenha sido mais crucial na separação de Beatles foi o vício de heroína de John.
“John era muito curioso”, explicou Yoko. “Ele perguntou se eu já experimentara. Disse-lhe que já tinha dado uma cheirada durante uma festa. Eu não sabia o que era. Era uma sensação bonita. Acho que devido a ter sido uma pequena quantidade nem senti, nem me senti mal. Foi só aquela sensação agradável. E foi o que eu disse a ele. Acho que, talvez porque eu tenha dito que não fora uma experiência ruim, isso teve alguma coisa a ver com a disposição dele em experimentar.” Seja lá o que tenha tido a ver, não foi uma coisa passageira, e eles logo estavam viciados. Passaram todo o verão deitados, naquele apartamento, submersos no estupor que se auto-infligiam.

Ele começara pedindo para segurar a mão dela, de modo que seu poder espiritual pudesse fluir entre eles. Logo ficou claro que ele tinha um método mais complicado, mas bastante antigo, para facilitar o fluxo. Em cinco ocasiões diferentes, e para agradar ao “grande mestre”, a garota se deitou, fechou os olhos e ficou pensando na Califórnia, enquanto o pequeno guru ministrava energia em sua carne.
Quando Alex passou essa informação a todas as outras mulheres, elas, com muita razão, ficaram aterrorizadas.
Alex decidiu preparar uma armadilha para o Maharishi. Na próxima incursão da garota à casa do guru, ele preparou diversas testemunhas, que ficariam escondidas nos arbustos embaixo das janelas. Quando o Maharishi começasse com suas bolinagens, a garota gritaria e, e todos entrariam correndo para ajudá-la. John e George desaprovaram fortemente as táticas de Alex, e se recusaram a tomar parte na coisa, mas o plano prosseguiu mesmo assim.
Naquela noite novamente a garota ganhou galinha no jantar, após o que o Maharishi começou sua brincadeirinha predileta, mas por algum motivo ela não pediu socorro conforme planejado. A medida que a cena começou a se desenvolver diante dos olhos de Alex, este provocou um barulho do lado de fora da janela para assustá-lo. Com medo que pudesse ser descoberto, o Maharishi ajeitou as roupas e deispensou a garota imediatamente.
Foi tomada a decisão de se partir no dia seguinte. Alex tinha medo que o Maharishi pudesse tentar bloquear a fuga, recusando-se a ajudar a encontrar transporte. Pouco depois do café da manhã, o Maharishi chegou ao conjunto de casas. Os três homens se levantaram para ir ao seu encontro. John tinha sido escolhido para falar, apesar de odiar a tarefa. “Estamos indo embora, Maharishi”, disse ele.
O homenzinho assumiu um ar doloroso. “Mas por quê?, perguntou.
John não teve coragem de confrontá-lo. Evasivamente, ele disse: “O senhor é o mestre cósmico, o senhor deve saber.”
Alex foi mandado a uma cidadezinha próxima para arranjar táxis. Segundo Alex, tal como ele havia previsto, o Maharishi fizera espalhar pela cidade vizinha que os Beatles não deveriam receber ajuda para partir. Os habitantes fizeram Alex entender que o Maharishi poria uma espécie de maldição sobre eles caso os ajudassem. Ele finalmente conseguiu alugar dois carros velhos e seus respectivos motoristas. Os carros enguiçavam de quilômetro em quilômetro, e o carro de John e Cynthia acabou furando um pneu. Todo mundo ficou achando que o Maharishi os amaldiçoara. Não havia estepe no carro, e enquanto Patty e George prosseguiram para buscar ajuda, John, Cynthia e o motorista ficaram sentados à margem da estrada deserta, num calor infernal, durante mais de três horas, antes que conseguissem uma carona.
De volta a Londres, os Beatles decidiram observar um código de silêncio a respeito do incidente. Decidiram que, se a história fosse toda contada, refletiria de forma altamente negativa sobre eles mesmos.
John, no entanto, foi quem teve a pior reação de todos eles; sentiu-se enganado, usado, e ficou furioso como o diabo. Ele descarregou um pouco de sua raiva numa canção sobre Maharishi, mas à última hora mudou o título para Sexy Sadie, para evitar um possível processo legal.

Um comentário:

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